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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Jaguarão - A cidade

JAGUARÃO - PATRIMÔNIO HISTÓRICO & ARQUITETÔNICO



Cidade localizada à margem esquerda do Rio Jaguarão em frente a cidade uruguaia de Rio Branco, a 11 metros de altitude.


Fundada em 1811; vila criada por Dec. de 6 de julho de 1832; instalada em 22 de maio de 1833; cidade por lei prov. n° 322, de 23 de novembro de 1855.
Jaguarão destaca-se pela arquitetura, principalmente de casas, construídas no século XIX.

A cidade tem um dos maiores patrimônios edificados do Estado, com aproximadamente 800 imóveis de destaque. Desse total, 29 casas e prédios estão incluídos no roteiro de turismo Ecletismo no Sul, no qual são apresentadas características formais, linguagens, sistema e técnicas do ecletismo historicista, do luso-brasileiro ou colonial, do neocolonial, do protoracionalista, kitsch e do modernismo. No roteiro, o visitante também descobre detalhes que revelam o toque pessoal de antigos proprietários e construtores, como os vasos, compoteiras e pinhas (utilizadas na tradição portuguesa como símbolo de boas vindas), além dos pisos de vestíbulos em xadrez branco e preto, indicativos da ordem maçônica (Fonte: Sebrae).




Detalhe de porta - Família Macsoud


Detalhe frente casa Mal. Deodoro


Igreja Matriz do Divino Espírito Santo


Detalhe de casa rua XV de novembro



Detalhe 27 de janeiro


Detalhe 27 de janeiro


Enfermaria


Porta Interna da Enfermaria


Porta - Frontal- Enfermaria


Ponte Mauá- Lado uruguaio


Ponte Mauá , Lado brasileiro



Ponte Mauá


Ponte Mauá


Arco da Ponte Mauá
Para ver mais fotos procurar no Flickr por Hélio Ramirez


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Hélio Ramirez, o músico e compositor

Hélio Ramirez – o músico e compositor





Falar da arte musical de Hélio Ramirez é falar de natureza. Terra, ar água, plantas, bicho e seres humanos.
É falar de uma região em especial: o entorno da Lagoa Mirim e o Rio Jaguarão. Brasil, Uruguai; Uruguai, Brasil. Ali está o seu universo poético. Lá onde o Brasil começa (ou termina!? ). Fronteiras! Senfronteiras!... Meu Norte: O Sul!...
Verões mormacentos... Primavera de muitos pássaros, flores e cheiros... Outonos cálidos, com a vegetação nativa cheia de nuanças e matizes. Invernos de muito frio. Frio que nos aproxima. Para amar, tomar chimarrão ou um bom vinho tinto. Fogão a lenha. Panelas no fogo: carreteiro... Espinhaço com batatas...
Local de “tipos-fronteira”. Meios brasileiros, meio uruguaios. Meninos que vão pra cidade grande, deixando nesse trajeto a pureza: Jogo?, Vida? Piá, Peão... Mulheres jujueiras*, mulheres fortes; mulheres que não resolveram suas vidas e que tristes e solitárias lançam seus olhares até onde a vista alcança, pois sonho alcança mais. Mulheres feias, mulheres lindas. Índias. Brancas. Negras como Negrita Regina e “sus cinco negritos hambrientos”.
O grito dos quero-queros. A pitangueira e seus frutos maduros. As garças voando lentas e majestosamente sobre a mata. A traíra arredia fazendo a disparada dos lamparís nalgum remanso. Os hibiscos em flor às margens da Mirim. O Sangue-de-boi que surge prenunciando a primavera. A rusticidade das figueiras, galhos tortos- efeito do vento contínuo- e longos; braços abertos, como uma mãe abrigando diversas formas de vida. Jerivás e butiazeiros, este com seus frutos carnudos e gostosos. Doces, como os lábios de uma china; Alegria dos piás** e da bicharada. E principalmente da gauderiada*** que é chegada numa cachaça com butiá.
São acordes e letras de profundo senso de amor ao sul.


* Jujeiras: Vendedora de ervas de chá.
**Pia: Menino.
*** Gauderiada: pessoas.





Algumas participações artísticas de Hélio Ramirez


  • 1 º lugar no 4º Festival da Canção Rádio Cultura- Jaguarão;
  • 3º lugar na 1ª Charqueada da Canção Nativa de Pelotas;
  • 2º lugar na 2ª Charqueada da Canção Nativa de Pelotas;
  • 3º lugar na 3ª Charqueada da Canção Nativa de Pelotas;
  • Representante da Zona Sul do Estado no programa Sul em Canto da RBS Tv;

Fez apresentações musicais nos seguintes locais:



  • TV Educativa em Porto Alegre;
  • Programa Galpão Crioulo – RBS TV;
  • 1º e 2º Fórum Social Mundial em Porto Alegre;
  • Bar Opinião – Lançamento CD do Fórum Social – Porto Alegre;
  • Festival Orillas – Rio Branco – Uruguay;
  • 2º Encuentro Cultural Binacional – Lago Merin – Uruguay;
  • Melo – Uruguay;
  • Treinta y Tres - Uruguay;
  • Paysandu – Uruguay;
  • Rádio Gaúcha – Programa de Glênio Reis – Porto Alegre;
  • Teatro 7 de Abril – Pelotas;
  • Teatro Esperança - Jaguarão;
  • Montevideo – Uruguay;
  • Espaço Cultural Mário Quintana - Porto Alegre;
  • Trabalhadores sem fronteiras – Anfiteatro do Colégio Pelotense – Pelotas;


A "latinoamericanid"
Hélio Ramirez participou, assim como outros estudantes (a maioria advindos da zona de fronteira: Jaguarão, Sta. Vitória do Palmar, Bagé, Herval, Arroio Grande, entre outras cidades) e também do Uruguai, Argentina e outros países latinoamericanos, ativamente da formação de uma consciência latino americana na cidade de Pelotas historicamente pólo sócio-econômico cultural da região sul do Rio Grande do Sul.
Todos bebendo das fontes inspiradoras de poetas como P. Neruda, Lorca, Vinicius de Morais, Serafin J. Garcia e Jaime C. Blau; de escritores como Eduardo Galeano; de pensadores como Leonardo Boff; de músicos como Violeta Parra, Victor Jará, Quilla Payun, Inti Illimani, Chile; Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui, Los Fronterizos, Los Chalchaleros, Los Iracundos, Horacio Guarani, Leon Gieco, Jorge Cafrune, Piero-Jose, Argentina; Los Olimareños, Aníbal Sampayo, Ruben Lena, Alfredo Zitarrosa, “El Sabalero” José Carbaral, Daniel Viglietti, Numa Morais, Ruben Rada, as murgas e o candombe, Uruguai; Jose Maria Godoy da Nicarágua; Pablo Milanes e Silvio Rodrigues, Cuba; Bob Dylan, Joan Baez, Simon & Granfunke, Creedence Clearwater Revival, EUA; Grupo Tarancon, Raices de América, Os Tapes, Noel Guarani, Martim Coplas, Cenair Maicá, Dércio Marques, Diana Pequeno, Gonzagão e Gonzaguinha, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Belchior, Elis Regina, Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho, Almir Sater, Milton Nascimento, Beto Guedes, Sá & Guarabyra, Boca Livre, Theo de Barros, Geraldo Vandré, Tom Jobim, Rolando Boldrin, a viola caipira de Paulo Freire, Tom Zé e João do Vale, Brasil.
A época: nos últimos estertores da ditadura. Pura efervescência! Mais do que nunca podíamos expressar nossos cantos, nossas palavras, nossas loucuras... Veias abertas... Venas abierta de la América Latina!



Um estrada com muito canto e parcerias...
Hélio Ramirez participou de vários grupos e formações musicais. A todos com que dividiu o palco ele guarda o maior carinho.
Os mais importantes grupos ou formações musicais que Hélio Ramirez participou são:
GRUPO AMERICANDO, com Plínio Silveira e Jorge Passos;
QUATRO CANTOS, com Roseli Andrade, Pedro D’ Ávila e Conrado Maleski;
ACALANTO LATINO, com Régis Bardini, Fabrício Moura, Cláudio Vieira e Fábio Moura;
CAMINHOS DE SÍ, com Martim César (poeta e escritor) e Paulo Timm (músico);
Vários músicos e ritmos, com Thadeu Gomes, Bira, Mirian Fernandes, Regina Bainy, Dulce, Basílio Conceição, Sérgio Christino, Gil, Fábio Acosta, Juliandro Pedrosa, Daniel Brum, Fernando “Araçá”, Alcides “Salchicha” e Edu Damatta (Caboco).




Bar Americando, Balderrama pelotense.
Em decorrência do trabalho musical do Grupo Americando e por faltar local onde pudesse ser tocada música latinoamericana surge o Bar Americando. O espaço transformou-se num local onde todas as tribos conviviam numa grande harmonia.
O termo “americando” foi escolhido pelos integrantes do grupo como uma homenagem ao programa homônimo da TV Sodre – emissora estatal uruguaia- Americando levado ao ar todos os domingos, pela manhã, onde se apresentavam artistas da América Latina.
Mas deixemos que, nosso amigo e freqüentador assíduo do local, o poeta Álvaro Barcellos conte um pouco dessa história:



Americando
Transcorria o ano de 1984, o qual remetia ao romance (de 1948, atualíssimo) de George Orwell, que antecipava a propagação do pensamento único, hoje tão fortemente presente nos ventos devastadores do neoliberalismo. Mas era, na época, um ano em que começavam a soprar no Brasil algumas brumas de alento, eis que a passadas largas desmoronava, finalmente, o terror do regime militar, instalado no país a partir do golpe de 64, que depusera João Goulart, para colocar em seu lugar truculentos militares, que comandavam e disseminavam um regime de tortura, medo, perseguição e morte.
Como prova definitiva de que os dias cinzentos da ditadura estavam mesmo contados, surgiam aqui e acolá os mais variados movimentos, de alguma maneira até então sufocados, de renovação e busca de caminhos de resistência política e cultural.
É precisamente neste cenário que o grupo Americando, formado pelos jaguarenses Hélio Ramirez, Plínio Silveira e Jorge Passos, resolve instalar em Pelotas um bar com o mesmo nome.
Funcionando na Rua Marechal Deodoro, entre Senador Mendonça e Major Cícero, o bar transformou-se num espaço cultural verdadeiramente importante. Tudo ali era muito natural, espontâneo.
Os ambientes aconchegantes e o excelente atendimento eram grandes cartões de visita. Havia uma sala na frente com mesas e cadeiras cuidadosamente distribuídas. E era o lugar ideal para jantar. A segunda peça possuía no canto um balcão. Ao fundo, uma imensa estampa de pano trazia a emblemática e generosa silhueta de Mercedes Sosa. O pano ocupava toda a parede. Parecia um lençol. Lindo. Havia também um pequeno palco, onde normalmente os anfitriões, do grupo Americando, costumavam tocar. O repertório era basicamente latinoamericano. Respirava-se um aroma do Prata. Mais no fundo, havia mais duas ou três peças. Detalhe: normalmente, na penúltima e última peças, também rolava muita música. Os violões eram distribuídos, mui gentilmente, pelos próprios caras do bar. Por vezes, chegava-se lá, e em geral havia muita gente e o espaço era amplo, e podia-se ouvir o pessoal do grupo Americando, na segunda peça (a do palco), um outro pessoal com outro gênero musical na quarta peça, e por exemplo grito de carnaval na última peça. Certa feita, chegamos a sair de lá puxando um samba tão embalado, que percorremos o quarteirão como que anunciando carnaval. Era um espaço de profunda comunhão musical e multicultural.
Em outra oportunidade, os vizinhos, já meio indignados (deviam ter suas razões) com a turbulência do bar, uniram-se para tentar fechá-lo: organizaram um abaixo-assinado. Os freqüentadores, porém, percebendo a importância do espaço, responderam com outro (imenso) abaixo-assinado, garantindo um certo fôlego para que o bar continuasse aberto. Um dia, o Plínio me chamou num canto, e me disse em tom confidencial: ou trago a Mercedes Sosa no bar, ou derrubam o prédio. Derrubaram o prédio.
O bar fechou, longo tempo transcorreu, mas a semente de algum modo vingou. Todo aquele que, como eu, apreciava tanto a noite na época, pôde observar: se nunca mais houve nada parecido, talvez porque tudo tenha sua hora e lugar, o fato, no entanto, e isso é inquestionável, é que a noite pelotense jamais foi a mesma depois do Americando. Mais do que um bar, o espaço constituiu-se num marco, numa espécie de movimento de resistência, que modificou toda concepção de casa noturna em Pelotas. Perdi o contato por algum tempo com seus integrantes. Mas felizmente pude refazer esses contatos mais tarde. Tanto que já tenho até composições em parceria com Cláudio Vieira (Senha e A camponesa e o guerreiro), que era amigo dos caras, e com Hélio Ramirez (Ruína, composta em homenagem a Bob Dylan). Todas elas ainda estão inéditas em CD. No entanto, tudo tem seu tempo.
Mas o Americando foi mesmo um grande barato. E sua existência não se deu em vão. Seus frutos estão espalhados por aí. E os malucos que pensaram e conceberam aquele espaço também. Porque resistir, no fundo, se confunde um pouco com a própria arte de viver.

Álvaro Barcellos – poeta e letrista



A discografia
Hélio Ramirez começou gravando nos antigos LP, as populares e inesquecíveis “bolachas”. São os discos do Festival Charqueadas de Pelotas 1ª. 2ª e 3ª Charqueadas) e dos Festivais de Arroio Grande -RS
Esses festivais que aconteceram em Pelotas ainda carecem de um profundo estudo histórico musical; pelo que eles representaram para a cultura do Rio Grande do Sul, principalmente por sua oxigenação, pelos vários ritmos, linguajares e tribos.





Pedro Munhoz ao vivo – encantoria
De 1998, Hélio Ramirez fez participação especial na música de sua autoria Maria, charqueadas e fronteiras.




Canto Jaguarense e Outros Cantos
De 1999. Uma bela coletânea de vários músicos de Jaguarão. Nesse trabalho é reeditada a antiga formação do Grupo Americando, na música homônima. As músicas são:

- Barqueiro do Rio do Jaguarão
Letra e música: Hélio Ramirez
Guitarra: Fábio Acosta
Baixo: Daniel Brum
Percussão: Juliandro Pedrosa
Violões e vocal: Hélio Ramirez e Cláudio Vieira.
- Americando
Letra e música: Hélio Ramirez, Plínio Silveira e Jorge Passos (Grupo Americando)
Baixo: Daniel Brum
Guitarra: Fábio Acosta
Bangô: Juliandro Pedrosa
Violões: Cláudio Vieira, Plínio Silveira e Hélio Ramirez









SENFRONTEIRAS
De 2001. Finalmente surge seu primeiro CD solo, com 10 músicas de sua autoria e 2 de Thadeu Gomes





2º Fórum Social Mundial- Um outro Mundo é possivel
De 2002. Junto com outros artistas gaúchos, Hélio Ramirez participa desde Cd com a música de sua autoria Maria, Charqueadas e fronteiras.





Caminhos de Sí

De 2003/2004 com Martim César e Paulo Timm

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lendas do Rio Jaguarão

LENDAS DO RIO JAGUARÃO

O JAGUAR GRANDE

O nome do rio Jaguarão e da cidade homônima têm origem numa lenda indígena guarani.
Contavam os velhos pajés, quase em sussurros... Ao pé das grandes fogueiras... Em noite estrelada de verão... Cri-cri dos grilos e o clamar triste das corujas...
Naqueles tempos os guaranís eram donos desta terra. Não havia o homem branco com seu jeito difícil de lidar com a Mãe Terra... Yaguaru ou Yaguaron era um bicho horripilante, meio jaguar meio peixe. Do tamanho de um cavalo pequeno. Pêlo espesso como o da capivara. Boca crivada de dentes, como os da traíra; pontudos e afiados como os espinhos da coronilha. Tinha os olhos flamejantes que brilhavam na escuridão. Seu urro parecia sair das profundezas do inferno... Adorava ver correr sangue. Para tocaiar suas presas, homens, mulheres e até curumins, usava de um estratagema: com suas garras grandes como espadas, fazia enormes buracos, entre as barrancas; junto às margens do rio. Quando a vítima, incauta, passava por tal armadilha, seu peso fazia a mesma desabar. Era mais um desgraçado! Matava dois, três, quatro ou mais... Só por prazer. Comia, de algum deles, somente os pulmões. O bicho era o terror dos índios.
Os guaranis fizeram várias buscas para matá-lo. Procuraram, perto da nascente, no meio das pedras, junto aos camalotes e nada. Na mata fechada, que existia, naqueles tempos, perto da foz... Nem rastro... Até na Mirim andaram a procura do bicho!... Nada encontraram... O Yaguaru tinha sumido? Ninguém sabe... Talvez ele esteja nalguma barranca, nas curva do Rio Jaguarão, junto aos sarandizais esperando mais uma vítima.





O TESOURO DE GARIBALDI

Essa estória escutei à beira de fogão a lenha. Contada por tias-avós; em noite de lua cheia; geada branqueando os campos... Frio de rachar! Muito chimarrão, para os homens; para as mulheres mate doce, com muita erva de chá: manzanilha, carqueja ou funcho. Nós crianças, acocoradas aqui e ali, somente olhávamos... Tal bebida nos era proibida; e escutávamos as conversas dos mais velhos. Olhos esbugalhados! Corações em sobressaltos, ainda mais quando caia alguma semente de “ocalito” sobre o telhado de zinco...
Mas vamos ao caso: a República Juliana fenecia. Garibaldi, junto com Anita resolveram emigrar para a Banda Oriental do Uruguai. A sorte estava virando para o lado dos monarquistas; estes tinham olhos e ouvidos por todos os rincões do Pampa.
Garibaldi consegue chegar até a fronteira, mas informado por amigos republicanos, resolve não fazer pouso em Jaguarão, pois sua presença, na cidade seria notada. Era muito perigoso, tão importante figura farroupilha cair em mãos imperiais. Melhor seria cruzar o rio num lugar mais distante e ermo, convenceram-lhe os amigos. O Passo do Centurião era o lugar perfeito para tal peripécia... Dali, Melo estava a algumas léguas...
O “passo” era,e felizmente ainda é, um local agreste e luxuriante, com mato muito fechado e, dizem com muita cobra urutú, a “cruzeira” "de los gauchos", de bote curto e certeiro. Havia também, para facilitar as montarias, um “empedrado” natural, típico “camino de los quileros”. Gente meio brasileiro, meu oriental, que desde que o mundo é mundo conheciam cada curva, cada camalote ou cada ilha do rio.
Mas Garibaldi foi descoberto. Com os imperiais em seus encalços, desesperado enterra todo seu dinheiro e pertences de valor - dizem que inclusive uma bandeira da República Rio-Grandense, presente do general Bento Gonçalves- em três grandes panelas de ferro e vadeia, junto com Anita o Jaguarão, somente com a roupa do corpo...
O tempo passou. Após escaramuças no Uruguai, Garibaldi toma o rumo da Europa, em direção a sua querida Itália, que nesse tempo ainda era composta de vários reinos, para participar de sua unificação. Bom, mas isso é outra história!
Passaram-se os anos e um dia, um pobre gaudério, que procurava uma rês desgarrada, achou numa das grotas mais perdidas do Passo do Centurião, junto ao pé de um velho e grande jerivá, semi enterrada, uma grande panela de ferro com muitas moedas de ouro! Era parte do tesouro de Garibaldi!
O sortudo mudou de vida! Comprou terras... Uma boa ponta de gado, Cavalo de patrão para ele e seus dois filhos.
A notícia do enriquecimento correu mundo. Um vizinho, homem “maleva”, inescrupuloso, de uma inveja medonha e com vários crimes nas costas, armou, junto com outros de sua laia, uma cilada para o estancieiro e seus filhos. Toda a espécie de judiaria e torturas fizeram com eles, para que confessassem! Onde estavam as outras duas panelas de ferro?
Se, conheciam onde elas se encontravam, o segredo morreu com os três...
Os corpos foram atirados num “perau” e viraram comida de peixe...
Contam que ainda hoje em noite de lua nova, três luzes vagueiam por entre os sarandís, que nascem junto as pedras do Passo do Centurião. Serão as almas dos três mortos guardando as outras duas panelas de ferro com o tesouro ou estarão elas, clamando por justiça?

A VOLTA DO NEGRO MORTO

Numa das curvas que o Rio Jaguarão dá, antes de se abraçar com a Laguna Mirim, existe um local muito fundo, mais de 10 metros!... É a volta (no sentido de curva, ou geograficamente falando: meandro) do Negro Morto.
Contava uma “tia-velha” benzedeira em que os tempos, naquele corpo franzino, haviam parado. Dizem que falava com os passarinhos. Fumava palheiro e bebia suas cachacinhas; benzia tudo: espinhela caída, dor de amor, asma, mau olhado e temporal. Só para ficar no varejo!
Suas rezas levantavam cavalo velho, homem já com “aquilo” roto ou nuvem de gafanhoto- que naqueles tempos eram freqüentes. Era conhecida por Siá Severina. Morava na beira do rio.
Ela contava o causo do tal negro morto, medindo as palavras. Entre uma baforada e outra do "crioulo". Os bracinhos negros e frágeis da velha gesticulavam, dando uma ênfase maior ao causo.
Falava ela que, naqueles tempos, quando ainda havia escravidão no Brasil, muitos negros tentavam fugir para o Uruguai, pois naquele país essa chaga já havia sido sarada.
Um escravo, que ela não se lembrava do nome, tentou buscar a liberdade exatamente naquela local. Seu senhor, juntando uns agregados partiu, em busca do fujão.
Vendo-se perdido o escravo tomou a decisão: liberdade ou morte! E atirou-se no rio Jaguarão. Era um homem forte; nadava vigorosamente... As balas sibilavam a sua volta...
Infelizmente a liberdade cobrou seu preço. Estava do outro lado, porém com várias balas no corpo. Embaixo de um grande salso, na areia quente e com o zumbido das mutucas agonizou por horas... Até morrer. Seu corpo ficou ali, virando repasto das feras e abutres.
Poucas pessoas se aventuram a pescar naquele local, pois dizem que o tal escravo, o negro morto, que ficou insepulto aparece em noite de lua cheia pedindo para que seu corpo ganhe uma sepultura cristã.